OFISA – Orquestra Filarmônica Santo Amaro

Revista Esmeril

ALTA CULTURA丨A Regente Educadora   Todo último domingo do mês, Silvia Luisada adentra o palco após todos os integrantes de sua orquestra, como manda o protocolo, recebendo os aplausos da plateia à espera do concerto realizado periodicamente pela OFISA – a Filarmônica Santo Amaro – no teatro Paulo Eiró, zona sul de São Paulo. A regente segura o microfone, cumprimenta o público e passa a explicar brevemente o repertório, a começar pela composição de abertura. A cada passo do concerto, o exercício se repete, assumindo contornos didáticos, de modo a inserir os ouvintes no coração da música prestes a ser tocada. Silvia não é apenas regente. Assume ali o papel de educadora musical. Os concertos mensais são gratuitos. Cada apresentação envolve mini preleções de apreciação musical. Ao que tudo indica, as apresentações periódicas no teatro Paulo Eiró têm por finalidade tanto a divulgação do repertório clássico quanto a formação de público cativo. Não se gosta de música orquestral da noite para o dia. O hábito envolve um aprendizado. A explicação explora desde o tipo de peça musical (abertura de ópera, movimento de concerto, parte de sinfonia, suíte, poema sinfônico, etc.) até a história do compositor, traços de estilo e contexto geral da peça. Silvia é fundadora da OFISA e sua diretora artística, além de regente titular. Com longa experiência em educação musical, dedicando-se ao magistério desde 1980, faz da prática orquestral um ambiente de aprendizado para jovens músicos. Nos concertos, membros da orquestra têm a oportunidade de apresentar-se como solistas. Ademais, compositores jovens encontram ali oportunidade de ter suas peças executadas em público. O regente assistente da OFISA é, ele próprio, compositor. Aquilo não é apenas um palco onde instrumentistas competentes se apresentam a um público; mas um ambiente de aprendizado bilateral, sob a batuta de uma pessoa com olhos voltados a todas as direções do teatro. Regente, pianista, saxofonista, compositora e professora, formada pelo Conservatório Musical Paulistano, sob a tutela de nomes dignos de nota, Silvia exportou seu “ecletismo” como instrumentista às atividades que viria a desenvolver no domínio da gestão cultural. Ela cursou pós-graduação da área. Seu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado “A PRÁTICA ORQUESTRAL: UMA OPORTUNIDADE NA FORMAÇÃO DE JOVENS MÚSICOS“, obteve nota máxima e foi publicado pelo SENAC. Após ter realizado diversos projetos em prol da formação de artistas e promoção da cultura, ingressou na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em 1993; onde assumiu a produção musical da Casa de Cultura de Santo Amaro. Foi ali que começou a coordenar concertos mensais didáticos com grupos instrumentais e vocais variados, desenvolvendo a formação do público de música erudita na região. Como se lê em seu histórico de contribuições: Realizou várias oficinas de flauta doce, saxofone, teclado, teoria musical, musicalização infantil. Criou a Camerata de Flauta Doce em 1993, transformando-a em Orquestra Silvia Luisada em março de 2009, formou em 2002 o Coral Rachel Peluso, e fundou a Orquestra Filarmônica Santo Amaro em 2004, grupos dos quais é regente titular e diretora artística. Seria longo listar os inúmeros prêmios pelos quais o trabalho de Silvia Luisada em prol da cultura e promoção da música foi reconhecido. Só em 2022 foram três. Certamente receberá outros mais. Faço aqui menção honrosa ao hábito fantástico da regente em convidar, ao final da apresentação, algumas pessoas da plateia para ouvir o bis no palco, sentadas ao lado de seu instrumento favorito. Que orquestras nos proporcionam esse tipo de oportunidade? Um dos campos em que ela mais se destaca é no cuidado com a formação do gosto infantil, público que recebe homenagem no concerto da Orquestra de domingo, 27 de outubro. A ocasião é marcante, pois a orquestra celebra seus 20 anos de existência. A programação homenageia as crianças; contendo excertos da maravilhosa trilha sonora do filme “Como Treinar Seu Dragão”, entre outras joias desse universo. Quando me deparo com uma pessoa como Silvia, sinto admiração verdadeira. Falo para mim mesma: eis os verdadeiros restauradores da cultura. Fato é que artistas envolvidos com seu talento específico, independentemente de suas simpatias políticas ou de eventual nome governando a cidade onde atuem, são as pessoas mais aptas a promover, nos concidadãos, esse amor ao belo que marca seu cotidiano e existência. A exposição à alta cultura habitua as pessoas a amar a excelência, inclinando as almas a cultivar valores nobres, humanamente elevados. Platão acerta, quando insiste que: “A música é um instrumento mais potente do que qualquer outro para a educação, porque o ritmo e a harmonia encontram o caminho para o interior da alma”. Por isso, prestigie os verdadeiros promotores da cultura atuantes em sua cidade, no seu estado, no seu país. Cada pessoa que, como Silvia, consagra sua vida a manter vivo o interesse pelo que de mais belo o ser humano traz à luz merece, a qualquer momento, nossa máxima consideração. Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2024   *ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 61 DA REVISTA ESMERIL, por Bruna Torlay.